Organização para "desatentos"
Desatentos não costumam ser organizados. Não costumam manter rotinas e manter rotinas costuma ser importante para manter a ordem nas coisas.
Não costumam manter o esforço de alguma coisa que cause desprazer sem algum tipo de prémio imediato e óbvio, resultado desse esforço.
Ou seja, somos mais capazes de esforços rápidos por uma razão concreta. Menos capazes de esforços rotineiros só porque sim.
Resultado. Pode ser boa ideia:
- Não consultar guias de organização "normais". É frustrante compreender mentalmente a lógica de alguma coisa que na prática simplesmente não parece funcionar.
- Melhor consultar guias ADD-friendly, bons para "desatentos". Porque quando alguma coisa funciona tende a fazer funcionar a seguinte.
Comigo funcionou, por exemplo:
- Parar com grandes arrumações e partir para arrumações de impulso de 20 minutos, que seja. Mas o que ficar arrumado nesses 20 minutos passa a ser sagrado. (Exemplo, arrumei o tampo da minha mesa de cabeceira. Tirei tudo, limpei. Agora é proibido voltar a pôr lá tralha. Nunca mais voltou a ficar desarrumada. Vão semanas.)
- Packs de tarefas. Escondo o pijama debaixo das almofadas, puxo as cobertas para a cama "parecer" bem feita e deixo as janelas a arejar o quarto. Estas coisas formam um pack inseparavel. Faço sempre o pack para que fique sempre feito.
- Funciono melhor com prateleira do que com gaveta. Arrumação vertical do que horizontal. Em vez de dobrar em muitas dobras rigorosas, aprendi a dobrar qualquer roupa em rolo. Assim não se amachuca nem fica em todos os cantos. Tenho uma prateleira onde ponho a roupa em rolo. Assim quando tiro a roupa esta só pode ir para dois sítios (reduzir escolhas) ou roupa suja, ou faço um rolo e vai para a prateleira.
- Caixa dos sapatos. Se os sapatos não cabem lá, são de outra estação ou são para dar. Tenho a caixa fechada dos sapatos de outra estação. E tenho a caixa dos sapatos a uso. Os sapatos têm de caber lá. Senão, são para dar. Se comprar um par novo, tem de caber. Senão outro vai ter de saír. Quando tiro a roupa, tiro os sapatos, ponho na caixa e calço os chinelos de casa. Acabaram os sapatos espalhados por todo o lado.
Ainda tenho muita coisa à minha espera, mas não volto a fazer grandes tiradas. Já fiz dessas. Desmoronou sempre tudo sobre a minha cabeça porque não tinha feito uma mudança em mim, não tinha compreendido a natureza da minha forma de olhar para a desordem.
A minha forma de olhar para a desordem impede-me de ordenar.
Agora vou fazendo pequenas mudanças definitivas, em pequenas áreas que já não voltarão atrás e em pequenos hábitos meus.
A única importância de ler o máximo que posso e aprender o máximo que posso acerca de Transtorno de Déficit de Atenção nunca é substituir-me aos médicos.
É sim, compreender-me o suficiente para conseguir implementar transformações positivas na forma como vivo.
Compreender-me não tem preço.
Respeitar-me nunca vai causar dano.