O Retiro
Não tenho uma casa no campo, o meu retiro é interior
O que se passa comigo é em grande medida químico. Tem a ver com um mix, um cocktail químico de hormonas e banho cerebral. Cada dia é uma surpresa. Cada dia acordo de um jeito, imersa num cocktail de um novo colorido. Que pode ser garrido, vivo e convidar-me à alegria. Ou pode ser enxofrado, literalmente tóxico e nesse dia serei esmagada e prensada contra o chão do meu medo, do meu próprio vómito de mim.
De uma forma ou de outra, garrido ou enxofrado; o caldo dessa tisana nunca é suave; é sempre intensa; forte o suficiente para mergulhar todo o meu entendimento, todo o meu corpo, todo o meu dia e estranhamente tudo o que me acontece.
E é por isso que preciso de um abrigo.
Quando está tudo negro, é cataclítico.
E não adianta mudar nada fora. Nem chorar adianta. Nem pensar nisso adianta. Tudo o que eu faça cria tornados, aumenta tempestades. Transforma terramotos em planetas em colisão cósmica.
Só dá para lembrar que aquilo é química, vai passar. Passa sempre. Passou todas as outras vezes. 100% das outras vezes. E fugir para o reduto. Fugir para um espaço interior de não questionamento.
Sem conversas.
Sem considerações.
Cumprimento básico de tarefas mínimas obrigatórias, reduzir escolhas ao mínimo, terminar tudo o mais depressa possível dentro do cumprimento mínimo completo do essêncial, e manter-me no refúgio interior lembrando-me sempre da máxima:
- Isto é químico e vai passar, como passou 100% das outras vezes em que me sucedeu.